Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanheceresse amanhecer
mais noite que a noite.(Carlos Drummond de Andrade)
sábado, 10 de novembro de 2007
Sentimento do mundo
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2 comentários:
esse poema é lindo...
Drummond é Drummond
sim
drummond é drummond...
e tem o sentimento do mundo e os descaminhos da palavra e os descaminhos do mundo!
Legal seu blog!
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