quarta-feira, 21 de novembro de 2007

notícias do além

daqui tento ver além das lentes...
do exílio de mim mesma grito ansiedade e temores.
me escondo por trás das lentes ou nos caminhos de antes (passados, decompostos, repostos, de natureza viva, morta e reviva)
e aguardo o êxtase prometido...
(de te ver voltar a ver)
no estar e querer ser
(e o querer de parar a aflição)
fugi de mim: é isso!

sábado, 10 de novembro de 2007

Sentimento do mundo









Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

(Carlos Drummond de Andrade)


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Ontem choveu no futuro.
Águas molharam meus pejos
Meus apetrechos de dormir
Meu vasilhame de comer.
Vogo no alto da enchente à imagem de uma rolha.
Minha canoa é leve como um selo.
Estas águas não têm lado de lá.
Daqui só enxergo a fronteira do céu.
(Um urubu fez precisão em mim?)
Estou anivelado com a copa das árvores.
Pacus comem frutas de carandá nos cachos.


(Manoel de Barros, O livro das ignorãças)

sábado, 3 de novembro de 2007

"Ô chuva vem me dizer
Se posso ir lá em cima prá derramar você"

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Considerações sobre mim mesma

Definitivamente sou uma pessoa mediana. Sou de outono e primavera. Sou de doce amargo. Meio amargo. Não sou do tipo chocolate ao leite. Sou daquelas tipo chocolate amargo e geléia de abacaxi. Sou dessas mulheres que toma vinho seco e chopp claro. Sou daquelas que toma suco sem açucar e salada sem sal (menos de rúcula). Que gosta de pimenta (mas não muito forte). Dessas que preferem as margaridas e os girassóis. Há muito mais cor nos girassóis.
Sou dessas mulheres que não sentem muito intensamente as coisas (mas gosto do vento). Daquelas que percebem a falta de alguma coisa, mas levam tempo pra descobrir que é dos amigos. Das que raramente se apaixonam (de verdade). Mas que sempre ficam caídas por alguém (e sofrem resignadas). Penso, as vezes, que sou mesmo do tipo que os homens não querem se apaixonar (porque sou assim, meio torta). E sofro resignada, um pouco conformada.
O que torna minha vida mais mediana é mesmo não ter vivido intensamente as coisas. É esse desânimo drummondiano de seguir em frente.
É o nunca ter sido mais do que eu sou. É a sensação do para sempre (não como no caso da Cinderela)...