sexta-feira, 28 de março de 2008

não chega a ser um conflito, mas é reconfortante querer alguém.
desistir desse querer (de tanto tempo) é quase como terminar uma longa relação:
tem o vazio que marca a falta de um querer
tem o medo que persegue a imprecisão de um novo querer
tem a solidão do abandono
(que é de nós mesmos, que é do outro que se sabe que quer, e que quer também - mesmo daquele jeito meio sem jeito, meio não querendo)

tudo gira em torno do querer
eu poderia passar muito tempo aqui, quieta, recostada nesse querer leve, sereno..
se ele não me alfinetasse de saudade, raivas e melancolias vez em quando
se seu lado obscuro não me causasse tanta ansiedade

eu sei que eu poderia ficar aqui, cozinhando esse querer
querendo que ele me quisesse, mais... mais...

e o fato é que perceber que o que está em jogo é o querer é como perceber o quando subjetivo é isso (o que quer que seja) que eu tenho vivido!
Meu querer é tão concreto quanto palpável!
ele existe, não duvido, porque sinto!
E é apenas dele que abrirei mão...

por hora, sigo cozinhando meus desejos, temores, ansiedades, necessidades!...
(não quero mais falar)














Não nasci com dom pro samba, eu me dei pro samba!
Ele se embrenhou em mim...
O samba me quer de olhos fechados...

quinta-feira, 27 de março de 2008

negro o hoje desde ontem
sigo fora de mim e embruxada..
eita, quem me encasmurrou?!...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Hoje eu não tô boa
Há duas noites que durmo gripada e hoje acordei mal-humorada
Hoje não é dia que se venha falar do dito pelo não dito que ficou pra última hora e que pra agora
Hoje é dia que quero ser paparicada
(não me peça pra chegar em 40m)

Hoje não tô pra esses serzinhos meia boca
(já disse do meu humor?)

Meu mar não tá pra peixe
Hoje era dia de ter resposta e não ficar no vácuo
Hoje queria tudo e esses prolongamentos de imbecilidade
Hoje queria o infinito e acabar com essa gripe idiota de ar condicionado

Poder comer sem perder o ar
Poder ler sem bocejar (e me concentrar)
Queria acabar com essa inadequação (prolongada pela gripe e pelo email que não chegou e pela previsão de tarefa já cumprida)

Na verdade eu apenas acordei gripada, pensando bem não estava mal-humorada
Fui é ficando puta no meio da manhã!
(isso tudo é uma grande merda e quem deveria fazer ficar melhor não se esforça; existe solução pra mensagem sem resposta, pra leme sem rumo?)

sábado, 1 de março de 2008

Um pouco de Drummond (pra palavrear o momento)

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.