O que é beagá?
É só o lugar ou é a pessoa?
Para sentir a falta é preciso saber do cheiro?
Mas como é a cor do cheiro de um lugar que só sabe ser pessoa?
É também muita pretensão de uma pessoa querer ser o lugar para alguém...
Você pode sentir o cheiro?...
Quando me distancio penso no cheiro, penso no vento, penso no toque
No calor do sol dessas tardes que já esfriam...
Penso em quanto querer de te mostrar beagá em todos os ventos, em todos os calores (mesmos nos calores frios de outono)
Acho que prefiro o outono – ainda sou aprendiz de sentir
Quando me distancio sinto falta do sol
O sol amanhecendo na janela da sala
Entardecendo na Avenida José Cândido
Mesmo quente e irritante ao meio-dia
Frio e aconchegante às oito horas
Seco e vermelho às dezoito horas
Penso... será que a falta é minha?
Será que me faltará beagá e todas as esquinas cansadas de um clichê batido?
E me faltará caminhar madrugadas pelo centro entorpecendo a noite, encarando o vento, destemida contra o noturno em companhia das melhores figuras alucinadas de cervejas desvairadas (quando poderia caminhar sem me preocupar – com o que todos se preocupam porque não pensam, pobres, que dormem, a noite dorme, o céu dorme, a praça dorme, Pedro e Carlos dormem, a Bahia dorme, e até o governador dorme)
Nessas noites andantes dançantes
(eu que nunca subi no arco mas sei que tenho mosquetes ou uma mosqueta, ou uma moça ensaiada arrodada que sempre – sempre! – acompanha)
Sinto que tenho tanto para sentir e não queria deixar o querer
Tão doce é a falta, tão morna e lenta
E você quer? Queria sempre saber do clichê da esquina
(porque eu sou tão clichê)